Em muitos destinos, entrada segue proibida por causa da pandemia e, em outros, a liberação ocorre com restrições, como a imposição de quarentena. Veja lista de países. ‘Quem pode começar no ano que vem deve esperar’, analisa especialista
O sonho de quem deseja fazer intercâmbio ainda depende de enfrentar protocolos rígidos e, em alguns casos, as barreiras de fronteiras fechadas em razão da pandemia do novo coronavírus. Mas há países onde a entrada está liberada mediante o cumprimento de medidas, como a quarentena de 14 dias após a chegada. Diante disso, será que já é a hora de retomar os planos para o intercâmbio?
Com uma segunda onda de casos que ameaça a Europa, os protocolos para recebimento de estudantes mudam constantemente. Embora países como Inglaterra, Portugal e Irlanda estejam recebendo estudantes brasileiros (com adoção de protocolos de segurança), outros países, como Alemanha e Espanha, mudaram as políticas e voltaram a dificultar e barrar o acesso, respectivamente.
Em 3 de setembro, a Espanha, que estava liberando a entrada com visto de estudante e seguro viagem, voltou com a restrição. Até então, só era obrigatório preencher um formulário de saúde pública, sem a necessidade de quarentena. As idas e vindas trazem insegurança para futuros intercambistas, que muitas vezes têm uma só oportunidade de fazer a viagem dos sonhos.
“Os países que tomaram algumas decisões de reaberturas estão tendo alguns casos de novas infecções, como a Espanha, um dos países mais afetados da Europa, que reabriu totalmente suas fronteiras e atualmente está com índice alto de contaminação (mais de 53 mil somente na semana retrasada)“, disse Maura Leão, presidente da Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio (Belta).
Na Alemanha, o acesso está liberado para estudantes de ensino superior (desde que não sejam aulas online integralmente) ou para cursos preparatórios de alemão com a comprovação de matrícula em curso superior na sequência. O governo local deixou de pedir quarentena obrigatória para brasileiros na semana passada e passou a exigir teste negativo de SARS-CoV-2, que deve ser feito na chegada ao país, pois testes realizados no Brasil não são reconhecidos na Alemanha.
Há também aqueles países que permanecem com fronteiras fechadas como Itália, Estados Unidos, Nova Zelândia, África do Sul e Malta. A Nova Zelândia iniciou a reabertura gradual, mas, há alguns meses, quando surgiram novos casos, imediatamente retornou ao nível de alerta anterior.
Além disso, a programação de um intercâmbio também deve levar em conta o atual cenário brasileiro, já que o País está atrás apenas dos Estados Unidos em mortes pela covid-19. O número de óbitos ultrapassou os 125 mil, com mais de 4 milhões de infecções confirmadas.
A organização da viagem de estudos, que antes podia ser feita com agilidade, neste momento exige cautela e atenção aos protocolos de segurança, que mudam a todo momento. Além da reabertura de fronteiras e cenário da doença, o estudante precisa ainda conferir a disponibilidade de voos e se consulados (quando é necessária a emissão de visto) estão abertos.
Retomada será lenta e gradativa, avaliam especialistas do setor
Desde meados de março, muitos brasileiros adiaram o sonho de estudar no exterior. Com a reabertura de países, boa parte dos estudantes ainda vê o intercâmbio como um dos planos prioritários. É o que revela pesquisa sobre impacto do novo coronavírus no intercâmbio, divulgada em setembro pela Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio (Belta): 90% dos estudantes aguardam a liberação de entrada no país de destino para investir em intercâmbio pós-covid-19.
Segundo o levantamento, os agentes são mais realistas, enquanto os estudantes são mais otimistas. “Os agentes creem que tudo voltará ao que era antes com a vacina da covid-19, já as expectativas dos estudantes é de que tudo será normalizado, seguindo as diretrizes de cada país, no segundo semestre de 2021”, avaliou a presidente da entidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já afirmou não prever imunização em massa antes de 2022.
Além de restrições, especialistas acreditam que a retomada do intercâmbio será lenta e gradativa. “O impacto foi muito forte e ainda continua. Temos sinal verde com a retomada das atividades nos países, mas ainda dependemos de fatores da fronteira, de países que aceitem a entrada de brasileiros”, afirmou Maura Leão.
“É preciso verificar ainda se as companhias áreas abriram voos para as localidades. Além disso, verificar a necessidade de visto, regras de permissão e funcionamento de consulados. No momento, o consulado canadense, por exemplo, está fechado, não sendo possível emitir vistos. Desta forma, os estudantes brasileiros que não têm visto ainda não conseguem embarcar”, acrescentou Maura.
Para a psicóloga Andrea Tissenbaum, consultora em educação internacional e autora do Blog ‘Tissen: O mundo gira aqui’, cada situação deve ser analisada individualmente, sendo adiada a viagem nos casos possíveis. “O intercâmbio de idiomas de poucos meses, acredito que possa ficar para depois da pandemia, mas alunos que vão fazer especialização, graduação, mestrado e doutorado dependem das regras das universidades”, disse. “Para quem é possível iniciar o semestre online, acredito também que não seja preciso ter pressa para viajar. Mas tenho alunos que precisaram viajar porque as aulas presenciais já estavam começando. Quem pode começar no ano que vem deve esperar um pouco para viajar”, avaliou.
Pensando no cenário após a pandemia, Canadá aparece no topo da lista dos cinco destinos mais procurados, seguido por Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia. Hoje, Canadá e Reino Unido, com restrições, já estão recebendo estudantes brasileiros.
“Nova Zelândia, que junto com Canadá e Austrália foram considerados como referência no enfrentamento à covid-19, também aparece nesta lista, diante das ações tomadas e por ter sido um modelo de segurança para conter a pandemia”, disse Maura.
Destinos que oferecem a modalidade combinada de estudo e trabalho tendem a puxar a retomada das viagens no ano que vem. “Principalmente pelos brasileiros que, diante desse cenário desafiador, estão em busca de recolocação no mercado de trabalho e de incrementar a experiência curricular”, avaliou Silvio Santana, diretor da Experimento Intercâmbio Cultural. No entanto, Maura ponderou que há ressalvas. “Não podemos esquecer os impactos financeiros enfrentados por diversos países, fato que deve afetar na oferta de trabalho durante os estudos.”
Leia a matéria completa: Estadão