Essa é uma situação que Ana Beatriz Faulhaber conhece de perto. Coordenadora no Rio de Janeiro da associação de agências de intercâmbio do Brasil, a Belta, Ana Beatriz ressalta que a preparação é um dos momentos mais delicados para quem busca uma vivência no exterior, especialmente alunos do Ensino Médio.
— Não há intercâmbio perfeito, mas é possível ver o crescimento dos alunos em pouco tempo. Um curso de idiomas de um mês em outro país já é suficiente para a pessoa ficar mais independente. O estudante volta do exterior sentindo-se capaz de cuidar de assuntos que antes ele nem prestava atenção, tais como trânsito, roupas, comida, horários e outras realidades — conta Ana Beatriz.
Com planos de estudar fora, a estudante Bianca Kato tem analisado cada detalhe da viagem. Para ela, passar por outro país é uma oportunidade de expandir a visão de mundo e conhecer novas pessoas.
— Penso em passar um tempo no Canadá pelas oportunidades de estudo e também pela qualidade de vida. Admiro, por exemplo, os programas de apoio à saúde mental dos estudantes. Isso pode fazer muita diferença na vida de quem vem de outro país — relata Bianca.
Altamente incentivados por especialistas como uma maneira de turbinar o currículo, intercâmbios não precisam ser de longa duração, o que reduz preços e não interrompe a rotina escolar nem os estudos para o vestibular ou o Enem. Para o diretor educacional da 3RA Intercâmbio, Francisco Zarro, é comum que adolescentes escolham viagens nos meses de julho ou janeiro.
— Geralmente os estudantes de Ensino Médio fazem o curso de um mês em períodos de férias no Brasil. Assim, é possível ter uma experiência internacional sem comprometer o andamento da escola ou da faculdade — ressalta Francisco.
O choque cultural é um dos principais motivos listados pelos agentes para os estudantes conseguirem mais autonomia. Para Ana Beatriz Faulhaber, os contratempos de cada viagem não são motivos para ter medo e servem para o desenvolvimento pessoal dos alunos.
— Erros, enganos, experiências mal sucedidas, tudo isso faz parte do crescimento. É um processo interessante, quando ninguém vai perguntar ao aluno o que ele quer nem vai fazer tudo por ele. É preciso ir aberto para viver essas experiências, mergulhar nesse tempo em outro país, e não pensar no que pode estar perdendo no Brasil.
O Canadá é o mais procurado por brasileiros há 13 anos consecutivos, segundo estudo da Belta, a associação das agências de intercâmbio no Brasil. De acordo com a pesquisa Selo Belta 2017, 89% dos intercambistas têm o país da América do Norte como principal escolha. Na maioria dos casos, o objetivo é fazer um curso de idiomas.
Para a associação, os resultados indicam que a segurança e os preços mais baixos estimulam o interesse de boa parte dos alunos por uma experiência no Canadá. Em seguida, os outros destinos de estudo mais interessantes para os brasileiros são: Estados Unidos, Austrália, Irlanda, Reino Unido, Nova Zelândia, Malta, África do Sul, Espanha e Alemanha.
A estudante Gabriela Diniz decidiu passar dois anos estudando em Edmonton, no Canadá. Para ela, o nível de abertura do país e os preços mais acessíveis são alguns dos motivos que levam tantos estudantes brasileiros a analisarem opções de intercâmbio por lá.
— Esse interesse vem principalmente da imagem de país receptivo a estrangeiros, além de se falar inglês. É uma alternativa mais amigável do que os Estados Unidos e de muitas formas mais acessível do que Inglaterra ou Austrália. O frio assusta, mas em tempos de tantas crises no mundo, o Canadá conquistou esse lugar de acolhimento no imaginário das pessoas — afirma Gabriela.
Francisco Zarro lembra, no entanto, que a pessoa deve decidir viajar quando estiver pronta. Para o diretor educacional, aproveita melhor a experiência quem tem maturidade para se adaptar ao novo país, mesmo sendo por um período breve.
— Cada sociedade é completamente diferente da outra. Por isso, é importante viajar com a cabeça aberta para curtir o máximo possível. O jovem brasileiro é às vezes muito dependente dos responsáveis, então é necessário que tenham o apoio dos pais no processo todo — pontua Francisco.
Perceber que nem tudo é perfeito em outros países foi fundamental para Gabriela Diniz. A estudante ressalta vários detalhes que podem desanimar quem não vai preparado para o lado negativo da experiência no exterior:
— Já vivi em alguns países e ainda estou para descobrir um lugar que não tenha problemas como dificuldade para achar trabalho, preconceito, insegurança e corrupção. Mesmo que esses não sejam os problemas, vão existir outros. Ainda existe a saudade de quem está no Brasil, como família e amigos, que pesa bastante também.
Para lidar com esses e outros problemas, Ana Beatriz Faulhaber sugere que os intercambistas mais jovens tenham os pais como parceiros nessa jornada, deixando inseguranças e desconfianças de lado.
— Essa é também uma oportunidade para os pais crescerem, percebendo no comportamento dos filhos aquilo que ensinaram a eles na infância. Sem os responsáveis por perto, o jovem precisa colocar em prática o que sabe de sobrevivência. Isso gera mais independência e capacidade de se relacionar com as pessoas, algo que o mercado de trabalho vê com bons olhos.
Fonte: https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/guiaenem/como-fazer-intercambio-durante-periodo-de-ferias-21823129