Aliviar os custos da viagem de estudos? ✓
Realizar estágios em empresas internacionais? ✓
Tornar o mundo (e a si mesmo) um lugar melhor? ✓
Idioma, cultura, história, belezas naturais. Uma série de fatores podem influenciar na hora de escolher o destino de intercâmbio, mas todos passam por um filtro comum a muitas pessoas: os custos financeiros da viagem de estudos. É aí que a possibilidade de trabalhar em terras estrangeiras entra na equação como uma maneira de aliviar os gastos, especialmente para aqueles que planejam longas temporadas fora do Brasil.
Régis Pereira estava decidido a passar seis meses longe de sua Belo Horizonte para aprender inglês. Amigos, palestras e uma Agência Selo Belta foram fundamentais para que ele optasse por escolher a Austrália como destino. Convencido da qualidade do ensino local, além do estilo de vida ensolarado do país, foi para Sydney e, com as devidas licenças, buscou posteriormente um trabalho na maior cidade australiana para bancar parte de seus custos. Hoje em dia, quando não está em sala de aula, demonstra, no período permitido, as habilidades como roofer, profissional responsável pela colocação de telhas em construções.
“Estou bem longe de ser um arquiteto por aqui”, diz ele em referência ao campo de trabalho de sua formação acadêmica. “Mas ganho o suficiente para ajudar a bancar meus estudos, diversão e a vida em Bondi, uma das praias mais famosas da Austrália”. Já há dois anos fora do Brasil e com o inglês na ponta da língua, Régis migrou do curso de General English para um curso de business, e pretende, em breve, fazer um mestrado na área de construção civil – uma decisão influenciada (adivinhe!) pela ocupação part-time.
O dinheiro é um meio, não um fim
“Normalmente, os estudantes acabam achando mais facilidade em encontrar empregos no setor turístico, como bares, restaurantes, lojas e cafés”, aponta Isabela Magalhães, diretora da Agência Selo Belta FiT Intercâmbio. Cada país, ela diz, conta com uma legislação específica para que o aluno possa trabalhar enquanto estuda. “Qualquer intercambista de longa duração – 14 semanas na Austrália e Nova Zelândia e 25 semanas na Irlanda, por exemplo – pode solicitar o visto de trabalho e tirar a licença de trabalho remunerado part-time”.
O trabalho part-time, equivalente a 20 horas por semana, apresenta horários reduzidos para que o estudante não esqueça que sua meta no exterior não é acumular grandes quantias, mas sim ter o suficiente para que possa se dedicar ao objetivo principal da viagem: estudar. “Em primeiro lugar, o trabalho não pode atrapalhar os estudos”, recomenda Isabela.
Além do dinheiro, uma ocupação remunerada pode, em muitas situações, ajudar a incrementar ainda mais a experiência de intercâmbio. A necessidade do uso da língua local no ambiente de trabalho, a interação com outras pessoas de diferentes backgrounds e, claro, a própria experiência em si, podem render frutos não só no momento como também no futuro. Afinal, uma vivência internacional recheada de oportunidades não tem preço.
Enriquecer: muito além de uma questão financeira
Há quem planeje um intercâmbio tendo exatamente o trabalho em mente, mas não necessariamente o dinheiro. Pelo contrário, a recompensa vem na forma de experiências que enriquecem de outras maneiras que não financeira – como é o caso de quem se aventura em estágios não-remunerados em empresas e em trabalhos voluntários.
“As posições são oferecidas através das agências no Brasil a partir dos parceiros no exterior, e o estudante já sai do país com todas as definições”, explica Isabela, da FiT Intercâmbios, sobre como é o processo para quem busca o trabalho não remunerado fora do Brasil. “No trabalho voluntário, há uma lista de opções já pré-definidas em termos de localização e o tipo de ocupação a ser exercida. Já nos programas de estágio, os alunos precisam apresentar currículo no processo de matrícula para que as escolas façam a busca de oportunidades na região dentro da área de estudo dos interessados”.
Os Estados Unidos, seguidos de Inglaterra e Itália, aparecem como os destinos mais procurados para quem deseja ter experiência no mercado de trabalho no exterior com um estágio, de acordo com Isabela. Vale ressaltar que apenas estudantes universitários ou recém-formados estão qualificados para o programa. Outra condição também é a compatibilidade do intercambista em se adequar ao período mínimo exigido pelas empresas lá fora.
Já os pré-requesitos para embarcar em um trabalho voluntário, que não impõe limites de idade rígidos, são mais simples – pelo menos em teoria: “Interesse nas áreas ofertadas e a disponibilidade em ajudar o próximo”, atesta Isabela. Pense, por exemplo, em experiências como lidar com crianças carentes na Colômbia ou trabalhar em hospitais na Guatemala; cuidar e ajudar na preservação de animais selvagens na África do Sul também é uma opção.
Interessou? Pois vale a pena ler o relato de Murilo Machado, um jovem de 16 anos de Uberaba (MG) que passou uma curta temporada na África do Sul. Suas palavras não são inspiradoras apenas para despertar a vontade de realizar um intercâmbio com foco no trabalho voluntário, mas também para mudar o mundo.
“Sempre tive a vontade de realizar um intercâmbio. Sabia que essa experiência seria uma oportunidade de crescimento pessoal. Quando comecei a procurar, vi os mais diversos tipos de programas, porém o que mais me atraiu, sem dúvidas, foi o de trabalho voluntário, e os motivos não foram poucos. Em meio a tanta pobreza na maioria dos países africanos, encontrei na África do Sul a oportunidade de vivenciar um pouco de tudo o que o continente africano, o berço da humanidade, tem a oferecer. Passei quatro semanas na Cidade do Cabo. O programa que escolhi mesclava curso de inglês com trabalho voluntário no maior hospital infantil do país. Meu trabalho lá consistia basicamente em brincar e entreter as crianças que, pelas mais diversas razões, passavam períodos longos dentro do hospital. O objetivo era tornar as experiências dessas crianças menos traumáticas em um momento tão difícil de suas vidas. Aos fins das tardes e nos fins de semanas, podia aproveitar ao máximo o que o país tinha para oferecer. De forma resumida, foi a melhor experiência da minha vida. Em meio a tantos desafios e dificuldades, tornei-me uma pessoa mais solidária, prestativa, melhorei minha habilidade de comunicação e provei para mim mesmo que sou capaz de fazer a diferença. Ter uma experiência internacional ajuda muito na hora de ver os defeitos e as qualidades que nosso país tem a oferecer, e só vendo quais são os verdadeiros problemas conseguiremos trabalhar e resolvê-los. Meu principal objetivo é desenvolver o Brasil, torná-lo menos desigual e criar oportunidades para jovens inspiradores agirem no país. Sou um jovem que não tem medo de sonhar alto, e talvez este seja o maior problema dos jovens em geral, o de não saberem o tamanho de seu potencial”.